quarta-feira, 20 de julho de 2016

A escada de Jacob na nossa Art.´. R.´.

“E após aquele sonho, Jacob entendeu que aquela escada era a porta para a «terra prometida», entendendo-se a «terra prometida» como o clímax da espiritualidade que o homem atingirá”.[i]

Desde cedo, a alegoria adotada pela Maç\ do sonho que, o escolhido por Deus[ii], teve em Betel enquanto dormia com a cabeça apoiada numa pedra, me despertou uma enorme atenção. Pelo seu enorme poder que facilmente transparece a quem a for estudando, a imagem de uma escada que está assente na terra e se eleva até aos céus, e em que por ela os anjos vão subindo e descendo provocou em mim, uma curiosidade arrebatadora, pelos seus possíveis significados aos mais diversos níveis e pela intensidade da sua mensagem.

Estamos obviamente a falar do relato que se pode ler em Génesis 28:10-19[iii].

Esta alegoria encontra o seu análogo em todas as sociedades iniciáticas que tive oportunidade de ir estudando, o que só por si demonstra bem o seu valor simbólico, são inúmeras as interpretações que lhe foram sendo atribuídas, os Rosa Cruzes, na sua Escada Rosacruciana, apresentam-nos os degraus da escada como se cada um deles estivesse relacionado com a subida a uma montanha - Ararat, Moriá, Sinai, Tabor, Gólgota e Oliveiras – as que constam dos sete episódios históricos vividos pelo povo judeu[iv]. Os Cabalistas associam-na ao despertar da consciência e aos seus quatro pilares da sustentação dos seus trabalhos[v]. Os Judeus, através do seu estudo da Torah, associam-na à necessidade de haver um percurso passando por todos os degraus, dando tempo ao tempo e um dia de cada vez, através da prece vão-se estabelecendo contactos entre o céu e a terra[vi] e os Pitagóricos, que a vêem como símbolo da busca afanosa da verdade pelo homem, “essa escada é a filosofia”, dizem[vii].

No Hinduísmo, já se falava numa Escada de Brahma, que todos os iniciados nos mistérios daquela religião deviam subir, os Hindus acreditavam que o mundo era composto por sete estratos, cada um alcançável por uma escada ou nível de sabedoria iniciática[viii]. Esta crença apresenta uma curiosa similitude com a religião egípcia, embora com uma aplicação processual diferente, em vez da reencarnação defendida pelos hindus, na religião egípcia acreditava-se num processo dividido em duas etapas, uma em vida, através da prática da Maat, ou seja, vivendo de forma virtuosa, obedecendo aos preceitos dos deuses, segundo a ética e a moral aconselhada. A outra, num post mortem, em que a alma era pesada na balança de Anúbis[ix].

Já no Mitraísmo, encontramos a Escada de Mitra e, na teologia católica, a escada de Jacó é em alguns cultos utilizada para representar as sete virtudes teologais, que por vezes são representadas por uma escada com sete degraus, que devem ser subidos pelo praticante.

E no que se refere à N\A\R\, este símbolo iniciático, de profundo carácter religioso, como muitos outros, é profusamente utilizado nos nossos trabalhos. Não será de estranhar a recorrente utilização de simbologia religiosa, nomeadamente do Cristianismo, pela Maç\. Esta resulta muito de motivos históricos, oriunda da Maç\ Op\ tempos em que a religião dominante era essa mesma[x]. A Maç\ não sendo uma religião no seu sentido estrito e habitual[xi], faz no entanto uso de diversos símbolos e alegorias marcadamente religiosos.

A utilização do simbolismo da Escada de Jacob pela Maç\, não sendo certo, parece ter sido inspiração dos MM.´. Jacobitas quando criaram o R\E\A\A\, ela é utilizada para simbolizar a cadeia iniciática maç.´. porque ela representa bem o sentido ascendente que o espirito humano deve prosseguir quando busca incessantemente um aprimoramento moral e espiritual.

Tal como o objetivo da Maç\ que pode por vezes parecer utópico, esta escada também não parece ter fim, mas sem dúvida que apresenta um rumo a seguir, um caminho, que deverá ser prosseguido de forma gradual, cumprindo-se também aqui o método de ensino da Maç\[xii], lembrem-se da Palavr\ Sagr\ que deve ser soletrada, os progressos são graduais e lentos, também o neófito, nas suas viagens, vai progressivamente percorrendo um percurso de grandes dificuldades iniciais que vão desaparecendo. A este respeito, recordo sempre a lenda de Ícaro[xiv], e questiono-me se, ao invés de este ter construído asas, tivesse optado por uma escada, talvez encontra-se o caminho da saída do labirinto onde se encontrava.

A escalada que aqui trazemos deverá ser feita em todas as direcções, do Oc.´. ao Or.´., do Setent.´. ao M.´. D.´., no sentido dos dois eixos traçados pelo esquad.´. (vertical e horizontal, que significam justiça e perfeição) e na forma traçada pelo comp.´. (a circunferência, cujo limite está em parte alguma e cujo centro está em toda a parte), por outras palavras, o universo.

Isto porque, no tempo e no espaço, o espirito maç.´. deve ser incansável no combate aos vícios, a escada do sonho de Jacób estava assente no chão, mas o seu ponto mais alto tocava o céu. Por ela os anjos subiam e desciam, ora é este o comportamento que, em minha opinião, o M.´. deve adoptar. Discípulo da razão, não pode ele nunca desprezar o reino subtil do espirito e, ao mesmo tempo, deve manter os seus pés assentes na terra. A escada de Jacób simboliza também, por um lado, a ascensão vertical do espirito humano na busca constante da perfeição espiritual, e, por outro, a constante necessidade de descer à terra para cumprir as finalidades da própria vida, trazendo para ela as virtudes conquistadas na sua ascensão[xiv].

MM\QQ\II\, o que fazemos nós numa Loj\ de S.´. J.´.?

Não resisto em arriscar uma nova abordagem, como eu a vejo, aproveitando toda a misticidade e profundo significado da visão de Jacób, porque esta ganhou mesmo um sentido ético e moral na nossa A\R\

A escada deverá ser dupla, de um dos lados, à medida que vamos subindo os seus degraus, estamos a crescer nas nossas virtudes - levantando templos à nossa virtude, do outro lado, à medida que vamos descendo os seus degraus, vamos enterrando os nossos vícios – cavando masmorras para os nossos vícios. Por isso, ela devia ser representada por um triângulo equilátero, em que os lados são os degraus e o chão a sua base[xv].

São efectivamente insondáveis os mistérios envolvidos nesta alegoria, certamente que cada um de nós terá a sua abordagem, no entanto, a busca pela evolução moral e espiritual estará, invariavelmente, sempre presente, o comp.´. deverá progressivamente ir-se sobrepondo ao esq.´.[xvi].



Referências Bibliográficas




[i] Autor desconhecido. Interpretação Rosa Cruz de uma alegoria bíblica.

[ii] “O escolhido por Deus” - Jacob, filho de Isaac e de Rebeca, neto de Abraão e irmão de Esaú.
É também referenciado como o escolhido por Deus, pela sua perseverança e abnegação, é mesmo apresentado como o Hebreu mais teimoso que alguma vez existiu, sendo o único homem que combateu com Deus, personificado num anjo.

"Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um homem, até que a alva subiu. E vendo este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com ele. E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares. E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. E Jacó lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva."(vide Gênesis 32:24-30).

[iii] Gênesis 28:10-19

“E Jacob seguiu o caminho desde Bersba e dirigiu-se a Harã.

Com o tempo atingiu certo lugar e preparou-se para ali pernoitar, visto que o sol já se tinha posto. Tomou, pois, uma das pedras do lugar, colocou-a como apoio para a sua cabeça e deitou-se naquele lugar.

E começou a sonhar, e eis que havia uma escada posta da terra e seu topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela.

Jacób acordou do sono e disse «Verdadeiramente, Jeová está neste lugar e eu mesmo não o sabia».

E ficou temeroso e acrescentou; «Quão aterrorizante é este lugar» Não é senão a casa de Deus e este é o seu portão de entrada».”

[iv] O primeiro degrau, depois de um dilúvio devastador, Noé, reuniu todos os seus bens e deslocou-se para o monte Ararat, onde encontrou refúgio. Dali soltou uma pomba que voltou com um ramo de oliveira no bico, ficava assim a saber qua as terras já não estavam cobertas pelas águas. A possibilidade de uma nova oportunidade.

No segundo degrau, o degrau da fé, da certeza que os nossos sacrifícios serão recompensados, Abraão dirigiu-se ao monte Moriá, Jeová pediu a Abraão um sacrifício, ou seja, que sacrifica-se o seu único filho.

O terceiro degrau da escada evolutiva refere-se ao episódio de Moisés subindo o monte Sinai, onde receberia o Decálogo (código de leis), aludindo-se à necessidade da disciplina e da obediência.

No quarto degrau encontramos os Judeus que, após atravessarem o deserto, vindos de um período de escravidão no Egito, chegam ao monte Carmelo e ali encontram verdadeiros e falsos profetas. É o degrau dos conflitos íntimos e do discernimento.

Só após a passagem pelo degrau do discernimento podemos subir ao monte Tabor, como sabemos é o monte da transfiguração de Jesus, é o degrau do nascimento espiritual.

Depois desta transfiguração, onde transcendem todas as diferenças religiosas e culturais, devemos subir ao monte do Gólgota, é o calvário da solidão e da incompreensão, o teste da persistência tão necessária em qualquer elevação espiritual.

Por fim, o último degrau, referente aos momentos de maior paz e felicidade que um homem pode atingir, é o momento da entrega total, Jesus no monte das Oliveiras. (Extr. e Ad., Autor desconhecido. Interpretação Rosa Cruz de uma alegoria bíblica).

[v] Querer, conceber, formar e executar.
Na tradição da Cabala, a escada de Jacób tem um simbolismo de grande significado pela aplicação da técnica da gematria, ou seja, a associação do significado das letras com o seu valor numérico, a palavra escada equivale ao número 130. Este também corresponde às palavras Sinai e ao nome Abraão, assim, os cabalistas fazem uma ligação de três nomes sagrados para eles e para os povos Judeus: Abraão, o pai da nação, o Monte Sinai, onde o Senhor apareceu a Moisés e a visão de Jacó em Betel. Desta forma, a visão da Escada de Jacó passa a ser a própria experiência de Israel na procura da sua sacralidade como nação.

[vi] LEVY, Rav Ezrah Ben. Textos Diversos.

[vii] “Uns estão na terra, preparando-se para subir os seus degraus. Outros, já ascenderam a alguns, enquanto outros, mais distantes, aproximam-se do topo. Lá, no alto, perdendo-se quase entre nuvens, são poucos os que, de baixo, podem vê-la. Só aqueles que ascenderam alguns degraus são capazes de consegui-lo” (SANTOS, Mário Dias Ferreira. Pitágoras e o tema do número).

[viii] O primeiro estrato era a terra e a consciência humana, o mais ínfimo deles. O segundo era o mundo dos espíritos, ou da reencarnação. O terceiro era o céu. O quarto era um estado intermédio onde as almas ficavam, logo que desencarnassem. O quinto era o mundo da regeneração, onde as almas eram preparadas para reencarnar novamente. O sexto era o Palácio do Grande Rei, onde habitava Brahma, o grande princípio criador dos céus e da terra. O sétimo era o mundo de Brahma, a essência, o incriado, a verdade em si mesma, o en shoph dos cabalistas, o próprio Deus na sua essência, o Pai da Luz. (Textos diversos. O estudo do Hinduísmo; A Escada de Jacó; Introdução ao estudo da Cabala).

[ix] Depois da sua morte, o individuo via a sua alma pesada na balança de Anúbis, com o contrapeso da pena de Maat, se esta se equilibra-se, era lhe concedida passagem para que continua-se a sua jornada, percorria um longo caminho pela Tuat, a terra dos mortos, enfrentando uma série de perigos, para chegar no seu final ao território luminoso de Rá, transformando-se num astro brilhante. Nessa jornada, se fossem demonstrados méritos bastantes no cumprimento da Maat, o individuo seria guiado por Osíris e completava sem dificuldades essa jornada. (Textos diversos. O Fascínio do Antigo Egipto).

[x] Por exemplo o Liv\ da Le\ que é representada maioritariamente pela Bíblia, a Escada de Jacób, os padroeiros São João Batista e São João Evangelista, o próprio Templo de Jerusalém ícone do Judaísmo, etc.

[xi] Vide, R\A\P\M\M\ Livrete do Pr\ Gr.´..

[xii] “O método de ensino da F\M\, que solicita os esforços intelectuais de cada um, evitando inculcar dogmas. Coloca-se o neófito na via da verdade dando-lhe simbolicamente a primeira letra da Pal\Sag\; Ele mesmo deve encontrar a segunda letra. Dando-lhe de seguida a terceira para que ele adivinhe a quarta e, por fim, é-lhe dada a quinta” (Vide, R\A\P\M\M\ Livrete do Pr\ Gr.´.).

[xiii] Na lenda de Ícaro, personagem da mitologia grega, ele e o seu pai, Dédalo, constroem asas de cera no intuito de conseguirem sair da prisão, no famoso labirinto na ilha de Creta. No entanto, as suas asas, acabaram por se derreter, quando se aproximaram em demasia do sol, provocando, desta forma, a sua queda dos céus em direcção ao abismo do mar Egeu.

[xiv] Temos também aqui a uma representação da ligação possível entre o sagrado e o profano, entre o céu e a terra, numa interacção que completa as duas estruturas cósmicas e reabilita a ideia de unidade primordial do universo. Exatamente como faziam os antigos egípcios na aplicação do conceito da Maat, Maat levava para o céu os influxos da boa acção humana sobre a terra e trazia do céu as benesses dos deuses em troca dessas boas acções. (Extr. e Ad. Portal Maçónico. A Escada de Jacób).

[xv] Extr. e ad. Ir\ não identificado. A Escada de Jacób na Maçonaria e o Circulo Misterioso.

[xvi] O esq.´. que representa a matéria e o comp.´. o espirito, se no prim.´. gr.´. o esq.´. se sobrepõem ao comp.´. (a matéria se sobrepõem ao espirito), nos restantes ggr.´., o comp.´. vai progressivamente se sobrepondo ao esq.´. (o espirito vai se sobrepondo à matéria).


NEVES, Jurandyr José Teixeira. A Escada de Jacó.

SARTORI, Eloi. A Escada de Jacó.

CASTRO, Nêodo Ambrósio. A Escada de Jacó.

BATISTA, Carlos António. Textos diversos. G\L\M\M\G\

Antigos Testamentos. Bíblia Sagrada

I.N.R.I.: Alguns dos seus significados[i]

Durante a minha elev.´. a C.´., mais concretamente na minha quart.´. viag.´., fui confrontado com um tetragrama
que conhecia bem, julgava eu … pois é sobre essas quatro letras – INRI - que me pretendo debruçar, procurando penetrar nos seus mistérios até ao limite da minha compreensão.

De tudo o que consegui ler, existem vários significados que se desdobram em vários níveis, desde logo, o que provavelmente todos conhecem, a um nível mais externo diria eu, refiro-me à inscrição colocada na cruz onde, assim acreditam os cristãos, Jesus foi crucificado.

A esse propósito, pudemos ler no Evangelho segundo João[ii], “Eles levaram Jesus. E ele, carregando ele próprio a cruz, saiu em direção a um lugar chamado Calvário[iii]. Foi ali que o pregaram na cruz. E crucificaram com ele outros dois homens, um à esquerda e outro à direita de Jesus. Pilatos mandou escrever e colocar sobre a cruz um letreiro que dizia: Jesus o Nazareno, Rei dos Judeus.”

Em 26 de Abril de 1839, no seu número 115, foi publicado no “Jornal de Frankfurt” um documento que alude à sentença de Pôncio Pilatos, pelo que li, este documento, foi encontrado durante as escavações na cidade de Áquila, no reino de Nápoles em 1280, e refere o seguinte:

“Eu, Pôncio Pilatos, aqui presidente do império Romano, dentro do palácio da arqui-residência, julgo, condeno e sentencio á morte Jesus, chamado pela plebe de Cristo Nazareno, de pátria Galileu, homem sedicioso[iv] da lei mosaica, contrário ao grande Imperador Tibério César.

Determino e pronuncio por esta, que sua morte seja em cruz, ficando com cravos, segundo a usança dos réus, porque aqui, congregando e juntando muitos homens ricos e pobres, não cessou de promover tumultos por toda a Judeia, dizendo-se filho de Deus e Rei de Israel, ameaçando-os com a ruina de Jerusalém e do sacra templo, negando o templo de César, e havendo tido o atrevimento de entrar com ramos e triunfo, e com parte da plebe, na cidade de Jerusalém e no sacra templo.

Mando que se leve pela cidade de Jerusalém o Jesus Cristo, ligado e açoitado, e que seja vestido de púrpura e coroado de alguns espinhos, com a própria cruz nos ombros, para que sirva de exemplo a todos os malvados, e com ele sejam levados dois ladrões homicidas, e sairão pela porta Yagarda e que se leve Jesus ao público Monte da Justiça, chamado Calvário, onde sacrificado e morto fique o corpo na cruz, como espetáculo a todos os malvados, e sobre a cruz seja posto este titulo nas línguas hebraica, grega e latina: Jesus Nazarenus Rex Jurdeorum (I.N.R.I.).”

Mas, se fizermos uma leitura mais atenta aos diversos escritos sobre o assunto, facilmente verificamos que muito antes dos Evangelhos estas quatro iniciais já eram conhecidas pelos antigos Sábios nos Santuários da Gnosis, como síntese de uma das fórmulas da natureza.

- Igne Natura Renovatur Integra – A natureza é completamente renovada pelo fogo.

A outro nível, sabemos também que INRI são as iniciais que encerram o segredo da Palavra Sagrada dos Cavaleiros Rosa Cruz (Grau dezoito da Maçonaria Ortodoxa), palavra esta que não se pronuncia, mas que está contida num diálogo do seu Ritual:

P.: Donde vindes?
R.: Da J.
P.: Por que cidade passaste?
R.: Por N.
P.: Quem vos conduziu?
R.: R.
P.: De que tribo sois?
R.: Da tribo de J.

Na câmara, onde os Cavaleiros Rosacruzes fazem os seus trabalhos, há vários objetos e ornamentos para que se possam desenvolver os rituais capitulares do Grau 18. Um deles é uma cruz ansata, com as letras I.N.R.I., alternadamente, em branco e preto, ao lado de um compasso e um esquadro, sobre uma mesinha triangular colocada entre o altar e a entrada do oriente.

Esta sigla, é usada como identificação entre os Cavaleiros Rosacruzes, e vem da própria iniciação do Grau com uma antiga máxima hermética já referida, Igne Natura Renovatur Integra, O fogo renova a natureza inteira. Mas, ela aparece também, quando o Cavaleiro é interpelado sobre a Verdade e responde que “a viu na Judéia, Nazaré, Rafael e Judá”.

Li algures que o Grau do Cavaleiro Rasacruz reflete a descida sobre nós de uma profunda tristeza e trevas, quando em desespero, nós podemos agarrar-nos a duas grandes forças motivadoras para nos salvar: a Razão e a Fé. A Razão trata daquilo que pode ser demonstrado, o que é tangível. A Fé vem de dentro de nós, o intangível.

Por outro lado, tive a oportunidade de verificar que alguns rituais atribuem ao tetragrama INRI o significado de “Jesus Nazarenus, Rex Judeorum”, ou que, entre os hebreus estas iniciais representavam os quatro elementos primitivos da antiga física, também conhecidos dos antigos filósofos e por cuja prova ainda passam os iniciados de alguns ritos Maçônicos: I, de Iammim (água); N, de Nur (fogo); R, de Ruahar (ar) e I, de Iabaschah (terra), certamente bem conhecidos por todos os MM\QQ\II\.

Em conclusão, os significados para a sigla I.N.R.I. não ficam certamente por aqui, outros existirão e outros acabarão por surgir, pois é notório que ela já se tornou mística e a imaginação do Homem não tem limites, muito mais quando algo está envolto de mistérios.


Referências Bibliográficas


[i] Extr. e Adaptado:
- Textos Cavaleiro Rosacruz – Clube Epistolar Real Arco do Templo;
- Ensaios dos Membros THOR – INRI e os seus mistérios.

[ii]Bíblia, Edição Interconfessional (2011). A Bíblia para todos, Lisboa. ISBN: LBE-EPS-2011-3K-BPTI6LG, p. 1894.

[iii] Caveira, em hebraico, Gólgota.

[iv] Insubordinado.

Amós: A ética social e a sua atualidade

“A Injustiça social não tem época. Parece omnipresente e atemporal. Ao ler o livro de Amós, temos a sensação dele ter sido escrito na nossa geração. Este documento que faz parte das Escrituras dos judeus e dos cristãos, é um grito de protesto contra a injustiça, opressão e indiferença. Amós foi um homem corajoso. Denunciou os abusos sociais dos homens poderosos da sua época. Não se intimidou com os perigos de se levantar contra reis e sacerdotes. Protestou contra a diferença polar na distribuição de riqueza. Censurou a hipocrisia e a prática religiosa destituída de amor, misericórdia e justiça. Assim, seus vaticínios são usados por profetas, poetas e socialistas de todos os tempos, mesmo pelos que nunca conheceram os seus escritos, mas que repetem as suas ideias essenciais.”[i]

Amós foi um profeta que viveu na época dos reis Uzias e Jeroboão II, do sul e do norte de Israel, respetivamente. Pelo que pude ler, era oriundo de uma pequena cidade chamada de Tecoa, que ficava a dez quilômetros ao sul de Belém da Judéia.

Foi contemporâneo dos profetas Oséias e Isaías, segundo nos informam os livros dos próprios profetas nos seus primeiros versículos[ii] e exerceu o seu ministério profético entre os anos 786 e 746 a.C.[iii] Pelo que nos referem alguns autores[iv], era um homem do campo, simples e sem grandes estudos, pastor e criador de sicômoros[v].

Para nos situarmos na época, e como expõe LAZZARI, será conveniente referir que o reino unificado de Israel teve fim quando o rei Salomão faleceu e as tribos do norte foram até Roboão, o novo rei, pedir alívio na carga tributária. Roboão, seguindo o conselho impetuoso dos jovens que cresceram com ele, com palavras duras deu a entender que não só manteria os altos impostos, como os aumentaria, provocando grande revolta entre a população, liderada por Jeroboão, que veio a tornar-se o rei das tribos nortistas. A partir daí houve separação entre as tribos do norte e do sul, na política e na religião e, algum tempo depois, Samaria tornou-se na capital do reino do norte, enquanto Jerusalém a capital do reino do sul.[vi]

Ora, foi fundamentalmente a estes dois reinos que Amós dirigiu a sua mensagem, numa época de prosperidade, mas de profundas inversões de valores e de princípios éticos.[vii]

É a própria Bíblia que nos fornece o cenário em que se vivia na altura, muita prosperidade econômica, o território de Israel tinha-se alargado e a agricultura desenvolveu-se, sendo do entendimento geral que tanto Jeroboão II, como, Uzias, no sentido político-económico, tiveram um bom desempenho.

Pois, mas a prosperidade e a fama, que a todos interessa obviamente, são muitas vezes seguidas de indiferença para com os mais desfavorecidos, é muitas vezes o desejo de acumular mais e mais, custe o que custar. É precisamente neste cenário de indiferença, exploração, desigualdade, injustiça e falta de amor que o profeta Amós levanta a sua voz.

A riqueza da mensagem do profeta é vasta, o que torna impossível abarca-la nestas poucas páginas, desde a denúncia das mais diversas crueldades praticadas, onde os fins justificavam os meios, até à violação dos direitos dos pobres, são vários os temas abordados, mas será sobre este último que tomarei a liberdade de continuar a falar.

“E se deitam junto a qualquer altar sobre roupas empenhadas, e na casa dos seus deuses bebem o vinho dos que tinham multado”. (Am 2:8 – ARC).

Amós é claro, condena o fausto e a rapacidade[viii] dos homens de alta posição[ix], eles se deitam, refere, sobre roupas empenhadas perto de todo o altar. Pelo que sei, na época era proibido por lei tirar de alguém pobre o seu manto, a sua capa, a coberta da sua cama ou seja lá o que for de que ele necessitasse para se agasalhar. Porém, o profeta acusa os israelitas de retirar penhores e vestuário sem qualquer distinção, deitando-se neles próximo aos seus altares.

Mas, acrescenta ainda mais, e aqui, como refere CALVINO, falando estritamente aos juízes e governantes[x], eles bebem o vinho dos condenados na casa, ou no templo do Deus deles, vinho esse que era resultante de multas que haviam sido impostas sobre os condenados.

Portanto, para além da ganância e a avareza, o profeta também condena a superstição grosseira dos israelitas, porque imaginavam que não haveria punição alguma, mesmo saqueando e roubando os pobres e os necessitados, desde que reservassem uma parte do despojo para o seu Deus, como se um sacrifício do que fora injustamente obtido não lhe fosse uma abominação.

Recorrendo a um pequeno texto de LAZZARI, os homens ricos da sociedade israelita antiga não saíam no prejuízo em circunstância alguma. Criavam meios de ganhar dinheiro de todas as formas e arrancar o máximo que podiam dos menos favorecidos. Quando a exploração chegava ao limite, a ponto do pobre não ter mais de onde tirar recursos, até mesmo suas roupas eram penhoradas como garantia. A Lei de Moisés exigia que a restituição de uma roupa penhorada fosse feita antes do pôr-do-sol (cf. Ex 22:26-27). Entretanto, esse preceito da Lei era ignorado pelos réprobos[xi], os quais, certamente, achavam “brechas na lei” para executar tudo o que desejavam.

Como por diversas vezes a história nos foi provando, também aqui, a prosperidade não chegava ao povo, ficando os pobres cada vez mais pobres, não beneficiando a nação toda desta prosperidade. Amós apresenta-nos um quadro onde os ricos viviam em casas de marfim, enquanto os pobres eram oprimidos. Não só as casas, mas até as camas eram feitas deste material caro e precioso[xii]. Segundo CHAPLIN, a arqueologia evidencia que nessa época seus leitos eram decorados com engastes de mármores, com representações de lírios, veados, leões, esfinges e figuras humanas aladas. Foi um período de vida ociosa, riqueza, arte e lassidão moral[xiii].

É a filosofia dos fins que justificam os meios.

Amós, no seu livro, prevê sem rodeios que isto terá um fim dramático, O próprio inimigo de Israel seria o executor da “justiça”, fazendo colher exatamente aquilo que foi plantado. As fortalezas seriam derrubadas e os palácios saqueados[xiv], os ricos opressores seriam os primeiros a serem levados para o cativeiro[xv] e segundo algumas referências bíblicas, esta sua predição acabou por se cumprir à época do cativeiro babilônico, onde o primeiro a ser preso foi o rei, juntamente com seus filhos[xvi], seguido pelos sacerdotes[xvii] e pela cúpula real[xviii]. Em simultâneo, anuncia a destruição do templo, do palácio real, dos muros da cidade e das casas dos homens poderosos em Jerusalém[xix].

O simples profeta, homem sem muita cultura, trabalhador do campo, anuncia o futuro dos homens poderosos e opressores, os quais ignoravam princípios éticos nas relações interpessoais, deixando de lado o órfão, a viúva, o pobre, e pensavam apenas em enriquecer, acumular bens, cultivar o prazer, não se importando se tudo aquilo era conquistado às custas do trabalho dos que possuíam muito pouco e não tinham qualquer direito de aproveitar as coisas boas da vida. A semente da opressão havia sido plantada e no devido tempo eles colheriam esses frutos.[xx]

Dizia-me uma pessoa muito conhecida da nossa “praça”, companheiro meu de outras guerras, que no total, em apenas três meses, faliram em Portugal 2.278 pessoas, perto de 60 por cento do total de insolvências decretadas pelos tribunais no segundo trimestre do ano, 25 pessoas por dia. Acrescentei eu, para 2013, estima-se um agravamento médio de €150,00 por mês em sede de IRS. E durante o corrente ano de 2012, em média, foram necessários cerca de 155 dias de trabalho para pagarmos os impostos que nos foram exigidos, por outro lado, a taxa de desemprego atingiu no segundo trimestre de 2012 os 15 por cento da população ativa - o equivalente a 827 mil trabalhadores.

MM\QQ\II\, Portugal tem atualmente 2,5 milhões de pobres, a pobreza (rendimento inferior à Remuneração Mínima Mensal) já atinge um quarto da população portuguesa. Atrevo-me a dizer que uma das maneiras mais eficazes de empobrecer uma nação é impondo uma alta carga tributária e não retribuir estes impostos em benefícios para as pessoas.

Como referia o profeta, nos tempos longínquos de 786 a.C., a semente da opressão está plantada e no devido tempo colheremos os seus frutos.



Referências Bibliográficas



[i] LAZZARI JUNIOR, Julio Cesar – A ética no livro de Amós - Espiritualidade Libertária, São Paulo, n. 3, 1. sem. 2011, pp. 91-111.

[ii] cf. Os 1:1; Is 1:1; Am 1:1.

[iii] A Bíblia de Jerusalém (BJ) afirma que Amós pregou no período de 783 a 743 a.C. (p. 1246).

[iv] cf. Champlin, 2001, p. 3505.

[v] Uma árvore da família da figueira.

[vi] LAZZARI JUNIOR, Julio Cezar. (2011), A mensagem universal e atemporal da parábola do bom samaritano. In: Revista de Cultura Teológica, São Paulo, v. 19, n. 73, jan/mar. 2011, pp. 29-41.

[vii] Jeroboão II reinou em Samaria, norte de Israel, por 41 anos (cf. 2 Rs 14:23). Em sua época, o território de Israel foi expandido (cf. 2 Rs 14:25,28). Do lado do sul, Uzias fez um grande reinado, ficando no poder por 55 anos4 (cf. 2 Cr 26:3). Uzias conquistou alguns territórios filisteus e árabes (cf. 2 Cr 26:6,7) e sua fama chegou até ao Egito (cf. 2 Cr 26:8). Ele também construiu torres na capital do sul, Jerusalém, cavou poços, fortificou o seu exército (cf. 2 Cr 26:9-11) e até era um engenheiro da guerra, inventando armas para derrotar os seus inimigos (cf. 2 Cr 26:14,15).

[viii] Avidez.

[ix] CALVINO, João. (2012), Os comentários de João Calvino sobre o profeta Amós. In: www.editoramonergismo.com.br

[x] Refere CALVINO, Pode deduzir-se isso uma vez que estes tinham por costume entregar-se ao luxo por intermédio de espólios obtidos de maneira errada, na medida em que litigavam sem causa; e quando obtinham julgamento em seu favor, pensavam ser licito comer e beber com maior sumptuosidade.

[xi] Reprovados, odiados ou detestados.

[xii] (Am 6:4).

[xiii]  CHAMPLIN, Russel Norman. (2001), O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. 2. ed. São Paulo: Hagnos, pag. 3505.

[xiv] (Am 3:11) - Na época em que ele profetizou, Israel ainda não tinha sofrido sob os cativeiros assírio e babilônico, os quais quase extinguiram os descendentes de Jacó da face da Terra.

[xv] (cf. Am 6:4-7).

[xvi] (cf. 2 Rs 25:5-7).

[xvii] (cf. 2 Rs 25:5-7).

[xviii] (cf. 2 Rs 25:19).

[xix] (cf. 2 Rs 25:9,10).

[xx] LAZZARI JUNIOR, Julio Cesar – A ética no livro de Amós - Espiritualidade Libertária, São Paulo, n. 3, 1. sem. 2011, pp. 91-111.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

As ferramentas do A.´. - O maç.´. e o cinz.´.

A dada altura, refere o nosso livrete do Pr.´. Gr.´. o seguinte:

Quais são os utensílios de um A.´.?
- O cinz.´. e o maç.´..

Que representam eles?
- O cinz.´. representa o pensamento preso e as resoluções tomadas. O maç.´. a vontade que vai colocá-las em prática.

Quando fui convidado pelo N\ Q\I\ Pr.´. Vig\ a prestar provas para o meu aum.´. de sal.´., foi-me relembrado que deveria reler o já mencionado livrete, fiquei preocupado porque, em consciência, nunca o tinha lido do princípio ao fim, mas apenas seguido a prática de sempre recorrer a ele como a minha primeira fonte no estudo que fui fazendo sobre os mais diversos temas.

Seria o bastante? Certamente que não, pois estava ciente que jamais estaria totalmente preparado para tais provas, no entanto, tinha para mim que a aposta que havia feito estava correta, recordo bem os concelhos que me foram dados pelo N\Q\I\ Osíris – “Não decores nada, de ti espero muito mais do que isso, espero sim que percebas.”. Eu acrescentaria, decorar é fácil, sei isso bem, o difícil está em compreender.

Ora, tenho sentido de alguns II\ a preocupação de encontrarem a melhor abordagem para o estudo do livrete, qual o melhor método, decorar? Ele até tem poucas páginas. Não MM.´. QQ\II\, eu procuro não seguir esse caminho, fui sabiamente aconselhado a não o fazer. Nesse sentido, pensei para mim se não seria interessante aqui reproduzir o que tem sido o meu método de estudo, tenho a certeza que é imperfeito, pode ser melhorado, mas, qual a melhor forma de o fazer do que coloca-lo à consideração critica dos MM\QQ\II\.

Assim, socorrendo-me dos apontamentos que fiz na altura, vou procurar aqui reproduzir, ipsis verbis, o meu estudo sobre as ferramentas do A.´..

Logo que tive conhecimento que o maç.´. e o cinz.´. eram as ferramentas, ou utensílios, do A.´. Maç.´., levantaram-se várias questões, mas, porquê o maç.´. e o cinz.´.? Porque não apenas um deles? Ou, por que razão estes e não outros?

Tomando atenção à minha fonte primária, fico a saber que o cinz.´. representa o pensamento preso e as resoluções tomadas e o maç.´. a vontade que vai coloca-las em prática. Muito bem, mas porquê?

Efetivamente, as ferramentas utilizadas pelos designados A.´. Maç.´. Op.´. eram o maç.´. e o cinz.´., era com estes que trabalhavam a ped.´. brut.´., utilizando a força da gravidade do maç.´., juntamente com a massa metálica de que é composto, iam produzindo a desagregação, ou fratura, de outra massa de pedra ou matéria bruta, menos homogênea e resistente que a sua própria massa. Mas, esta força ou poder pode ser apenas destrutiva, a menos que aplicada com extremo cuidado, inteligência e esmero[i]. Por outro lado, o cinz.´. também possui massa, limitada e por vezes metálica, mas a sua têmpera e agudez tornam-no distinto, pois enquanto é cravado na matéria bruta onde se aplica, corta-a ao invés de quebrá-la, não a transformando em pedaços como aconteceria se aplicado apenas o maç.´..

Começo a compreender o porquê destes dois utensílios, um sem o outro não teriam o mesmo efeito sobre a matéria e o trabalho não seria executado, tanto mais, que a resistência e homogeneidade da massa de que é composto o cinzel o tornam especialmente adaptável a suportar no seu extremo superior todos os golpes desferidos pelo maço, transferindo esse efeito à matéria, passando a formatá-la e não a destruindo.

É agora claro para mim que um sem o outro, o cinz.´. e o maç.´., seriam ineficientes e incapazes de produzirem por si só, toda a exemplar operação a que estão destinados.

Por outro lado, e não menos verdade, sabemos todos que a Maç.´. é “… um sistema de moral velada pela alegoria e ilustrada por símbolos …“[ii] onde somos todos convidados e ver para além do óbvio, assim tudo se vai progressivamente tornando claro, ou senão, vejamos:

Para o simbolismo Maç.´. a Ped.´. Brut.´. nada mais é que o próprio homem diante da sua vida terrena, com toda a imperfeição que esta nos moldou durante tempos a fio desde o nosso nascimento, com abuso das paixões, submissão aos vícios e prática de más tendências. Tudo isto “temperado” com as frustrações do egoísmo, como refere Platão, “Aquele que deseja aproximar-se da perfeição moral, deve arrancar do seu coração todo o sentimento de egoísmo; por ser incompatível com a justiça, o amor e a caridade, ele neutraliza todas as outras qualidades”.

Para tanto, estando a Ped.´. Brut.´. submetida às ações do seu meio, deve sofrer o seu corte por meio de efeitos e causas, é esta a regra da natureza, e assim acontecerá no seu dia-a-dia. A Ped.´. Brut.´. é inerte, sem a propulsão da causa e vitima somente dos efeitos, e para que aja com respeito à natureza e não seja submissa às ações ativas de outrem ou de outra coisa, é necessário que seja reparada pelas suas ações diretas, e não mais indiretas do meio, procurando reagir para agir.

Ora, as ferramentas para o corte e o desbaste são simbolizadas pelo cinz.´. e o maç.´., e estes são operados em conjunto para dar forma, agindo sobre a Ped.´. Brut.´., que, aperfeiçoada, poderá ter a sua reação, saindo do estado de inércia para a reatividade, a cada lasca que for desbastada pelo cinz.´., reage às pancadas do maç.´..

Como refere o nosso livrete do pr.´. gr.´., o maço é a pura simbologia da vontade do homem, a força medida, a transpiração e inspiração sobrepondo a sua inteligência. Certamente, não é preciso ser inteligente para ter vontade, mas é preciso ter vontade para ser inteligente.

E o cinz.´., este representa aqui a razão espiritual, o complemento da força, a própria inteligência, como referem alguns autores, “… o farol que ilumina o caminho“. Tanto o Maç.´. como o Cinz.´., de per si, não conseguem realizar os seus propósitos, pois ambos necessitam de ações para obterem reações, e, “… somente iremos até à porta com a vontade de andar (Maç.´.) e o saber andar (Cinz.´.)”[iii].

Fica tudo bem mais claro, e tenho para mim que todos nós, como homens (Ped.´. Brut.´.), estamos à procura da perfeição, sendo desbastados pela inteligência (Cinz.´.), submetidos às nossas vontades (Maç.´.), e, dia-a-dia, assim como as mãos dos artistas, vamos fazendo nascer obra de arte, preocupando-nos com todos os detalhes, procurando dosar e controlar as nossas paixões, vencer os nossos vícios, levantar templos às nossas virtudes, enfim, “… procurando a medida justa e perfeita para a construção do nosso T.´..”[iv]

Para finalizar, reproduzo aqui um pequeno apontamento que tenho no final das minhas notas – Jamais me esquecerei que as ferramentas do A.´. Maç.´. são o Maç.´. e o Cinz.´..


Referências Bibliográficas




[i] JUNIOR, Raymundo D’ella – Maçonaria – 50 Instruções de companheiro, São Paulo: Madras, 2011, ISBN 978-85-370-0692-4.

[ii] Livrete do Primeiro Grau - R\A\P\M\M\.

[iii] PINTO, M. J. Outeiro – Do meio-Dia à Meia-Noite. São Paulo: Madras, 2007. ISBN 978-85-370-0182-0.

[iv] PINTO, M. J. Outeiro – Do meio-Dia à Meia-Noite. São Paulo: Madras, 2007. ISBN 978-85-370-0182-0.