quarta-feira, 13 de julho de 2016

Inic.´.: A L.´.

Foi uma das primeiras coisas que reparei logo que me foi retirada a vend.´. que trazia nos oo.´., A L.´.[i], foi para
mim uma surpresa, nunca tinha visto nada semelhante, fiquei surpreendido pelo simbolismos existente em tudo o que via.

Muito para compreender, muita “pedra bruta para trabalhar”, pois que me desculpem os MM\QQ\II\ mas, não posso deixar de me alongar um pouco mais sobre todo este simbolismo. A pedra bruta vai começar a ser trabalhada, só assim, com a ajuda de todos, se transformará em pedra cúbica[ii].

“O comprimento da L.´. se estende do Or.´. ao Oc.´., a largura do N.´. ao S.´. e a altura, do Zén.´. ao centro da Terra”[iii].

Sendo uma imagem simbólica do cosmos, as dimensões da L.´. são também universais, estas dimensões espaciais, surgidas simultaneamente pela irradiação a partir de um ponto central, criam um sistema de coordenadas onde o alto, o baixo o comprimento e a largura conformam a cruz tridimensional[iv]. Ora, esta geometria espiritual era perfeitamente conhecida pelos MM.´. Op.´.[v], que a aplicaram na orientação e disposição dos edifícios sagrados que construíram.

Sobre um estrado, junto à balaustrada, à direita e à esquerda do V\M\, há dois bufês, um em frente ao outro, para os II.´. Or.´.[vi] e Sec.´.[vii]. Sobre o altar do V\M\ um candelabro com três velas acesas, representando, no homem, as três luzes da Trindade, uma espada, que representa o poder do verbo ou da verdade intuitiva[viii], um macete, representando a força da vontade no homem e a carta ou patente constitutiva da L.´., que nos indica a sucessão da verdade no homem.

Mais à frente, sobre o altar dos juramentos, o livro da lei, simbolizando a Palavra Divina, o Verbo ou Verdade suprema[ix], um comp.´., que representa a dualidade no homem, espírito e matéria[x] e um esq.´., que, ao contrário do comp.´., tem o seu ponto central em baixo e os seus ângulos se elevam para o céu, representa o homem inferior que, por ser dominado pelo superior, novamente se alça para a sua origem, o céu[xi].

Como refere ADOUM, o esq.´. e o comp.´., abertos e entrelaçados sobre o livro da lei, ou Pal.´. Div.´., são os instrumentos simbólicos que nos servem para interpretá-la e usá-la construtivamente.

Em ambos os lados Nor.´. e S.´. estão os assentos respectivamente dos AA.´., dos CC.´. e dos MM.´.; os primeiros têm de colocar-se na região escura porque não podem suportar a luz plena do meio-dia onde se encontram os CC.´. e os MM.´., respectivamente do lado do Oc.´. e do Or.´..

No Oc.´. se encontra a porta de entrada na qual há um assento e uma espada flamejante para o G.´. I.´., que, como guardião do T.´., não permite a entrada senão àqueles que sofreram a morte iniciática. Junto de si, levantam-se duas colunas isoladas[xii], de ordem coríntia, cujos capitéis estão coroados por três romãs entreabertas, distinguindo-se cada uma das citadas colunas com um nome misterioso, cujas inicias estão esculpidas nas suas hastes (J e B)[[xiii], são o símbolo do aspecto dual de toda a nossa experiência no mundo terrestre[xiv].

Próximo destas colunas, no extremo ocidental dos lados N.´. e S.´. do T.´., colocam-se, num pequeno estrado, o bufê e o sitio dos VV.´., estes com o V\M\ representam os três atributos da Divindade: Omnisciência, Omnipotência e Omnipresença[xv], são as três colunas que sustentam a L.´., ou os três atributos e poderes que sustentam o corpo humano: a Sab.´., a For.´. e a Bel.´.[xvi].

De ambos os lados do T.´., do Or.´. ao Oc.´., há algumas filas de assentos, chamadas de colunas, os da esquerda formam a coluna do N.´. destinada aos AA.´., os da direita formam a coluna do S.´. ou M.´.-D.´., destinada aos CC.´. e aos MM.´.[xvii].

No extremo oriental da coluna do M.´.-D.´. encontramos o bufê do Tes.´. e, em frente a este, no lado oposto correspondente à coluna do N.´. tem o seu lugar o Hosp.´.. O Tes.´. representa no homem o que o ocultista chama Corpo Causal[xviii], o Hosp.´., representa a fraternidade e a caridade.

A memória é traiçoeira, já não me recordo com exactidão o que vi, mas para além do supra referido, tenho ainda presente o P.´. e o N.´.[xix], o primeiro que está colocado sobre a coluna J e representa o progresso individual de baixo para cima[xx], e o segundo, colocado sobre a coluna B, a linha recta, ou seja, que os pensamentos, as aspirações e as acções do homem devem ser modelados sobre uma linha recta, em sentido oposto à gravidade das tendências inferiores[xxi].

Por fim, a ped.´. tosca, ou br.´., símbolo do corpo material do homem que não obteve nenhum conhecimento e a ped.´. cúb.´., a representar o homem prefeito ou aquele que trabalha na perfeição de si mesmo. No centro da L.´. um mos.´.[xxii] composto de quadrados, alternadamente bran.´. e pre.´. que simbolizam a diversidade de seres, tanto animados como inanimados, assim como, o enlace do espírito e da matéria, ou a vida e a forma, por toda a parte[xxiii]. Todo o perímetro do mos.´. tem uma bor.´. dent.´., que simboliza a muralha protectora da Humanidade, constituída pelos homens que em séculos e milénios passados atingiram a meta da perfeição humana.

A contornar todo o T.´., uma cor.´. denominada de “cor.´. de 12 nós”, ininterrupta, cujas extremidades pendem ao lado da porta de entrada. Colocada no tecto , uma Est.´. Flam.´. de seis pontas[xxiv], símbolo da Divindade e de Deus manifestado no Seu Universo, não confundir com a estr.´. de cinco pontas colocada no Or.´., junto ao V\M\, chamada de Estr.´. do Or.´. ou Estr.´. da Inic.´., símbolo do homem perfeito, de Deus manifesto no homem e não no universo.

Compreendo agora melhor que cabe ao A.´. permanecer calado, ouvir e ver com atenção os ensinamentos que lhe vão sendo prestados pelas mais diversas formas, procurar entender o que o rodeia, é o que tento começar a fazer, procurando ver para além do óbvio, “ver com o coração” como refere o Principezinho de Saint-Exupéry.

Li algures a seguinte ideia, considerando em conjunto todo o T.´., o recinto da L.´. é um templo da humanidade, e como tal, simboliza um homem estendido de costas, os três grandes sustentáculos correspondem a importantes centros do corpo humano. A saber, o V\M\ ocupa o lugar do cérebro, o P.´. V.´. os órgãos geradores, símbolos de fortaleza e virilidade e o S.. V´.´., corresponde ao coração.

Bem vistas as coisas, sou levado a pensar que o T.´. aqui representado, edificado à imagem do T.´. do R.´. Sal.´., pode muito bem ser também o nosso T.´. I.´..




[i] Sem dúvida um dos símbolos mais importantes para a Maç.´., recinto onde se trabalha para A G.´.G.´.A.´.D.´.T.´.O.´.M.´., a L.´. é um espaço sagrado que estabelece uma linha de demarcação e separação com o mundo profano.

[ii] Pedra perfeita, que representa o culminar da inic.´. e a obtenção da unidade interior.

[iii] É um símbolo do mundo inteiro.

[iv] Extr. e adapt. Símbolo, Rito, Iniciação: a cosmogonia/Sete Mestres Maçons; Tradução Norberto de Paula Lima. São Paulo: Ícone, 1995. ISBN 85-274-0356-0.

[v] No Séc. VIII, a religiosidade então dominante exprimiu-se, sobretudo, na construção de templos e catedrais góticas semeadas de sinais maçónicos (e.g. na Batalha, em Tomar e nos Jerónimos), os construtores e arquitectos desses monumentos tinham de se dotados de profundos conhecimentos técnicos, científicos e artísticos. Surgiram, assim, corporações de arquitectos, escultores, lavradores de pedra e operários especializados, que gozavam de certos privilégios e eram protegidas. O Papa Nicolau III concedeu aos sues membros, em 1277, o titulo de pedreiros livres, que implicava a isenção de impostos, da jurisdição ordinária e da obediência aos regulamentos municipais e aos éditos dos reis, bem como a liberdade de circulação.

Tais conhecimentos eram interditos a elementos estranhos, e apenas eram transmitidos secretamente nas LL.´. pelos mestres aos discípulos de reconhecido mérito e aptidão, e sempre após um juramento solene. Foi assim que surgiu a maçonaria operativa (de operários e construtores).

(ver: ARNAUT, António – Introdução à Maçonaria. Coimbra: Coimbra Editora, 2009. ISBN 978-972-32-1679-0, 6.ª Edição).

[vi] O Or.´. da L.´. representa o poder do verbo no homem, sendo o objectivo do pr.´. gr.´. desenvolver esse poder (Extr. e adapt. ADOUM Jorge - Grau do Aprendiz e seus mistérios. São Paulo: Pensamento, 2010. ISBN 978-85-315-0277-4).

[vii] O Sec.´. representa, no homem, a memória que acumula, arquiva toda a experiência recebida nos mundos do corpo (Extr. e adapt. ADOUM, Jorge - Grau do Aprendiz e seus mistérios. São Paulo: Pensamento, 2010. ISBN 978-85-315-0277-4).

[viii] Por outras palavras, como refere ADOUM, o poder da vontade educada.

[ix] A lei natural de que fala São Paulo.

[x] O comp.´. indica um ângulo cujos lados partem de um vértice, e quanto mais se alongam de sua origem, mais se separam. O ponto central da união corresponde ao Or.´., ou seja, ao mundo da verdade, da realidade, a fonte da criação que permanece eternamente e em estado de Unidade invisível. A parte oposta a esse ponto é a irrealidade, a matéria, o Oc.´.. Então, o ponto central do compasso é a união do espírito do homem com o espírito Divino. É a realidade que se manifestou em aparência. É o Ser que adquiriu forma. É o espírito que se vestiu de matéria. Cabe agora ao homem-forma realizar por meio da iniciação, ir para dentro, ou progredir caminhando em sentido inverso, do Oc.´. para o Or.´. (Extr. e adapt. ADOUM, Jorge – As chaves do reino interno).

[xi] Alguns autores acrescentam que o comp.´. é a intuição e o esq.´. a razão; o comp.´. é a sabedoria interna e o esq.´. é o conhecimento externo; porém, ambos são necessários ao homem no mundo físico.

[xii] A respeito do tem.´. do R.´. Sal.´., o Rit.´. Ing.´. explica que estas duas ccol.´. estavam à entrada do tem.´. para que os filhos de Israel, idos e vindos da oração, recordassem a coluna de fogo que os iluminou ao fugirem da escravidão do Egipto, e a coluna de nuvem que obscureceu Faraó e seu exército, que os perseguiam.

[xiii] J.´. e B.´..

[xiv] São a dualidade dos nossos órgãos, são os dois lados, direito e esquerdo, do nosso corpo, são os dois sexos, os dois princípios positivos e negativos que integram o homem, são a actividade e a inércia, ou o enx.´. e o sa.´. presentes na c.´. de r.´..

[xv] Cfr. Oper. Cit.

[xvi] De referir que o V\M\, o P.´. e o S.´. VV.´. sentam-se, respectivamente, ao Or.´., ao Ocidente e ao M.´.-D.´., ou seja, onde se manifestam as três qualidades.

[xvii] Alguns autores referem que o lado esquerdo e o cérebro esquerdo constituem a parte negativa no corpo humano, sendo no cérebro esquerdo que se alojam as ideias negativas e os átomos do mal em luta com o que chamamos bem.

[xviii] Átomo semente, memória que reúne o fruto da acção (Extr. e adapt. ADOUM, Jorge – As chaves do reino interno).

[xix] De referir que o esq.´., o nív.´. e o pr.´., as três JJ.´. MM.´., são usadas pendentes nos seus col.´. pelos três of.´. principais, são também chamadas de JJ.´. do seu cargo. São móveis porque são transferidas pelo V\M\ e VV\ aos seus sucessores no dia em que estes assumem seus cargos.

[xx] É também usualmente considerado que o pr.´. representa a rectidão ou justiça.

[xxi] É também usualmente considerado que o nív.´. representa a igualdade.

[xxii] No antigo Egipto respeitava-se com o máximo cuidado a santidade do pav.´. de mos.´.; ninguém o pisava, a não ser o cand.´., os of.´. quando lhes era necessário, o P\M\I\ no desempenho das suas funções, o P\D\ ao acender a luz no fogo sag.´. e o turiferário quando incensava o altar.

[xxiii] LEADBEATER, C. W. – A vida oculta na Maçonaria. São Paulo: Ed. Pensamento, ISBN 978-85-315-0704-5, Tradução da 2.ª Edição de 1928.

[xxiv] Pelo que li, em muitas LL.´. a Est.´. Flam.´. é de cinco pontas e primitivamente tinham pontas ou raios ondulantes, como era usual nas Obediências de Inglaterra e Estados Unidos.

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