segunda-feira, 18 de julho de 2016

As ferramentas do A.´. - O maç.´. e o cinz.´.

A dada altura, refere o nosso livrete do Pr.´. Gr.´. o seguinte:

Quais são os utensílios de um A.´.?
- O cinz.´. e o maç.´..

Que representam eles?
- O cinz.´. representa o pensamento preso e as resoluções tomadas. O maç.´. a vontade que vai colocá-las em prática.

Quando fui convidado pelo N\ Q\I\ Pr.´. Vig\ a prestar provas para o meu aum.´. de sal.´., foi-me relembrado que deveria reler o já mencionado livrete, fiquei preocupado porque, em consciência, nunca o tinha lido do princípio ao fim, mas apenas seguido a prática de sempre recorrer a ele como a minha primeira fonte no estudo que fui fazendo sobre os mais diversos temas.

Seria o bastante? Certamente que não, pois estava ciente que jamais estaria totalmente preparado para tais provas, no entanto, tinha para mim que a aposta que havia feito estava correta, recordo bem os concelhos que me foram dados pelo N\Q\I\ Osíris – “Não decores nada, de ti espero muito mais do que isso, espero sim que percebas.”. Eu acrescentaria, decorar é fácil, sei isso bem, o difícil está em compreender.

Ora, tenho sentido de alguns II\ a preocupação de encontrarem a melhor abordagem para o estudo do livrete, qual o melhor método, decorar? Ele até tem poucas páginas. Não MM.´. QQ\II\, eu procuro não seguir esse caminho, fui sabiamente aconselhado a não o fazer. Nesse sentido, pensei para mim se não seria interessante aqui reproduzir o que tem sido o meu método de estudo, tenho a certeza que é imperfeito, pode ser melhorado, mas, qual a melhor forma de o fazer do que coloca-lo à consideração critica dos MM\QQ\II\.

Assim, socorrendo-me dos apontamentos que fiz na altura, vou procurar aqui reproduzir, ipsis verbis, o meu estudo sobre as ferramentas do A.´..

Logo que tive conhecimento que o maç.´. e o cinz.´. eram as ferramentas, ou utensílios, do A.´. Maç.´., levantaram-se várias questões, mas, porquê o maç.´. e o cinz.´.? Porque não apenas um deles? Ou, por que razão estes e não outros?

Tomando atenção à minha fonte primária, fico a saber que o cinz.´. representa o pensamento preso e as resoluções tomadas e o maç.´. a vontade que vai coloca-las em prática. Muito bem, mas porquê?

Efetivamente, as ferramentas utilizadas pelos designados A.´. Maç.´. Op.´. eram o maç.´. e o cinz.´., era com estes que trabalhavam a ped.´. brut.´., utilizando a força da gravidade do maç.´., juntamente com a massa metálica de que é composto, iam produzindo a desagregação, ou fratura, de outra massa de pedra ou matéria bruta, menos homogênea e resistente que a sua própria massa. Mas, esta força ou poder pode ser apenas destrutiva, a menos que aplicada com extremo cuidado, inteligência e esmero[i]. Por outro lado, o cinz.´. também possui massa, limitada e por vezes metálica, mas a sua têmpera e agudez tornam-no distinto, pois enquanto é cravado na matéria bruta onde se aplica, corta-a ao invés de quebrá-la, não a transformando em pedaços como aconteceria se aplicado apenas o maç.´..

Começo a compreender o porquê destes dois utensílios, um sem o outro não teriam o mesmo efeito sobre a matéria e o trabalho não seria executado, tanto mais, que a resistência e homogeneidade da massa de que é composto o cinzel o tornam especialmente adaptável a suportar no seu extremo superior todos os golpes desferidos pelo maço, transferindo esse efeito à matéria, passando a formatá-la e não a destruindo.

É agora claro para mim que um sem o outro, o cinz.´. e o maç.´., seriam ineficientes e incapazes de produzirem por si só, toda a exemplar operação a que estão destinados.

Por outro lado, e não menos verdade, sabemos todos que a Maç.´. é “… um sistema de moral velada pela alegoria e ilustrada por símbolos …“[ii] onde somos todos convidados e ver para além do óbvio, assim tudo se vai progressivamente tornando claro, ou senão, vejamos:

Para o simbolismo Maç.´. a Ped.´. Brut.´. nada mais é que o próprio homem diante da sua vida terrena, com toda a imperfeição que esta nos moldou durante tempos a fio desde o nosso nascimento, com abuso das paixões, submissão aos vícios e prática de más tendências. Tudo isto “temperado” com as frustrações do egoísmo, como refere Platão, “Aquele que deseja aproximar-se da perfeição moral, deve arrancar do seu coração todo o sentimento de egoísmo; por ser incompatível com a justiça, o amor e a caridade, ele neutraliza todas as outras qualidades”.

Para tanto, estando a Ped.´. Brut.´. submetida às ações do seu meio, deve sofrer o seu corte por meio de efeitos e causas, é esta a regra da natureza, e assim acontecerá no seu dia-a-dia. A Ped.´. Brut.´. é inerte, sem a propulsão da causa e vitima somente dos efeitos, e para que aja com respeito à natureza e não seja submissa às ações ativas de outrem ou de outra coisa, é necessário que seja reparada pelas suas ações diretas, e não mais indiretas do meio, procurando reagir para agir.

Ora, as ferramentas para o corte e o desbaste são simbolizadas pelo cinz.´. e o maç.´., e estes são operados em conjunto para dar forma, agindo sobre a Ped.´. Brut.´., que, aperfeiçoada, poderá ter a sua reação, saindo do estado de inércia para a reatividade, a cada lasca que for desbastada pelo cinz.´., reage às pancadas do maç.´..

Como refere o nosso livrete do pr.´. gr.´., o maço é a pura simbologia da vontade do homem, a força medida, a transpiração e inspiração sobrepondo a sua inteligência. Certamente, não é preciso ser inteligente para ter vontade, mas é preciso ter vontade para ser inteligente.

E o cinz.´., este representa aqui a razão espiritual, o complemento da força, a própria inteligência, como referem alguns autores, “… o farol que ilumina o caminho“. Tanto o Maç.´. como o Cinz.´., de per si, não conseguem realizar os seus propósitos, pois ambos necessitam de ações para obterem reações, e, “… somente iremos até à porta com a vontade de andar (Maç.´.) e o saber andar (Cinz.´.)”[iii].

Fica tudo bem mais claro, e tenho para mim que todos nós, como homens (Ped.´. Brut.´.), estamos à procura da perfeição, sendo desbastados pela inteligência (Cinz.´.), submetidos às nossas vontades (Maç.´.), e, dia-a-dia, assim como as mãos dos artistas, vamos fazendo nascer obra de arte, preocupando-nos com todos os detalhes, procurando dosar e controlar as nossas paixões, vencer os nossos vícios, levantar templos às nossas virtudes, enfim, “… procurando a medida justa e perfeita para a construção do nosso T.´..”[iv]

Para finalizar, reproduzo aqui um pequeno apontamento que tenho no final das minhas notas – Jamais me esquecerei que as ferramentas do A.´. Maç.´. são o Maç.´. e o Cinz.´..


Referências Bibliográficas




[i] JUNIOR, Raymundo D’ella – Maçonaria – 50 Instruções de companheiro, São Paulo: Madras, 2011, ISBN 978-85-370-0692-4.

[ii] Livrete do Primeiro Grau - R\A\P\M\M\.

[iii] PINTO, M. J. Outeiro – Do meio-Dia à Meia-Noite. São Paulo: Madras, 2007. ISBN 978-85-370-0182-0.

[iv] PINTO, M. J. Outeiro – Do meio-Dia à Meia-Noite. São Paulo: Madras, 2007. ISBN 978-85-370-0182-0.

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