“E após aquele sonho, Jacob entendeu que
aquela escada era a porta para a «terra prometida», entendendo-se a «terra
prometida» como o clímax da espiritualidade que o homem atingirá”.[i]
Desde
cedo, a alegoria adotada pela Maç\ do sonho que, o
escolhido por Deus[ii], teve em Betel enquanto
dormia com a cabeça apoiada numa pedra, me despertou uma enorme atenção. Pelo
seu enorme poder que facilmente transparece a quem a for estudando, a imagem de
uma escada que está assente na terra e se eleva até aos céus, e em que por ela
os anjos vão subindo e descendo provocou em mim, uma curiosidade arrebatadora,
pelos seus possíveis significados aos mais diversos níveis e pela intensidade
da sua mensagem.
Estamos obviamente a
falar do relato que se pode ler em Génesis 28:10-19[iii].
Esta alegoria
encontra o seu análogo em todas as sociedades iniciáticas que tive oportunidade
de ir estudando, o que só por si demonstra bem o seu valor simbólico, são
inúmeras as interpretações que lhe foram sendo atribuídas, os Rosa Cruzes, na
sua Escada Rosacruciana, apresentam-nos
os degraus da escada como se cada um deles estivesse relacionado com a subida a
uma montanha - Ararat, Moriá, Sinai, Tabor, Gólgota e Oliveiras – as que constam
dos sete episódios históricos vividos pelo povo judeu[iv]. Os Cabalistas associam-na ao despertar da consciência e
aos seus quatro pilares da sustentação dos seus trabalhos[v].
Os Judeus, através do seu estudo da Torah, associam-na à necessidade de haver
um percurso passando por todos os degraus, dando tempo ao tempo e um dia de
cada vez, através da prece vão-se estabelecendo contactos entre o céu e a terra[vi] e os Pitagóricos, que a vêem como símbolo da busca afanosa da verdade pelo
homem, “essa escada é a filosofia”, dizem[vii].
No Hinduísmo,
já se falava numa Escada de Brahma,
que todos os iniciados nos mistérios daquela religião deviam subir, os Hindus
acreditavam que o mundo era composto por sete estratos, cada um alcançável por
uma escada ou nível de sabedoria iniciática[viii].
Esta crença apresenta uma curiosa similitude com a religião egípcia, embora com
uma aplicação processual diferente, em vez da reencarnação defendida pelos hindus,
na religião egípcia acreditava-se num processo dividido em duas etapas, uma em
vida, através da prática da Maat, ou seja, vivendo de forma virtuosa,
obedecendo aos preceitos dos deuses, segundo a ética e a moral aconselhada. A
outra, num post mortem, em que a alma
era pesada na balança de Anúbis[ix].
Já no Mitraísmo,
encontramos a Escada de Mitra e, na
teologia católica, a escada de Jacó é em alguns cultos utilizada para
representar as sete virtudes teologais, que por vezes são representadas por uma
escada com sete degraus, que devem ser subidos pelo praticante.
E no que
se refere à N\A\R\,
este símbolo iniciático, de profundo carácter religioso, como muitos outros, é
profusamente utilizado nos nossos trabalhos. Não será de estranhar a recorrente
utilização de simbologia religiosa, nomeadamente do Cristianismo, pela Maç\.
Esta resulta muito de motivos históricos, oriunda da Maç\
Op\ tempos em que a religião dominante era essa
mesma[x]. A
Maç\ não sendo uma religião no seu sentido
estrito e habitual[xi],
faz no entanto uso de diversos símbolos e alegorias marcadamente religiosos.
A utilização do
simbolismo da Escada de Jacob pela Maç\, não sendo certo,
parece ter sido inspiração dos MM.´. Jacobitas quando criaram o R\E\A\A\,
ela é utilizada para simbolizar a cadeia iniciática maç.´. porque ela
representa bem o sentido ascendente que o espirito humano deve prosseguir
quando busca incessantemente um aprimoramento moral e espiritual.
Tal como o objetivo
da Maç\ que pode por vezes parecer utópico, esta
escada também não parece ter fim, mas sem dúvida que apresenta um rumo a
seguir, um caminho, que deverá ser prosseguido de forma gradual, cumprindo-se
também aqui o método de ensino da Maç\[xii], lembrem-se da Palavr\
Sagr\ que deve ser soletrada, os progressos são
graduais e lentos, também o neófito, nas suas viagens, vai progressivamente
percorrendo um percurso de grandes dificuldades iniciais que vão desaparecendo.
A este respeito, recordo sempre a lenda de Ícaro[xiv],
e questiono-me se, ao invés de este ter construído asas, tivesse optado por uma
escada, talvez encontra-se o caminho da saída do labirinto onde se encontrava.
A escalada que aqui
trazemos deverá ser feita em todas as direcções, do Oc.´. ao Or.´., do
Setent.´. ao M.´. D.´., no sentido dos dois eixos traçados pelo esquad.´. (vertical e horizontal, que significam justiça e perfeição) e na forma traçada
pelo comp.´. (a circunferência, cujo limite está em parte alguma e cujo centro
está em toda a parte), por outras palavras, o universo.
Isto porque, no tempo
e no espaço, o espirito maç.´. deve ser incansável no combate aos vícios, a
escada do sonho de Jacób estava assente no chão, mas o seu ponto mais alto
tocava o céu. Por ela os anjos subiam e desciam, ora é este o comportamento
que, em minha opinião, o M.´. deve adoptar. Discípulo da razão, não pode ele
nunca desprezar o reino subtil do espirito e, ao mesmo tempo, deve manter os
seus pés assentes na terra. A escada de Jacób simboliza também, por um lado, a
ascensão vertical do espirito humano na busca constante da perfeição
espiritual, e, por outro, a constante necessidade de descer à terra para
cumprir as finalidades da própria vida, trazendo para ela as virtudes
conquistadas na sua ascensão[xiv].
MM\QQ\II\,
o que fazemos nós numa Loj\ de S.´. J.´.?
Não
resisto em arriscar uma nova abordagem, como eu a vejo, aproveitando toda a
misticidade e profundo significado da visão de Jacób, porque esta ganhou mesmo
um sentido ético e moral na nossa A\R\
A escada deverá ser
dupla, de um dos lados, à medida que vamos subindo os seus degraus, estamos a
crescer nas nossas virtudes - levantando templos à nossa virtude, do outro
lado, à medida que vamos descendo os seus degraus, vamos enterrando os nossos
vícios – cavando masmorras para os nossos vícios. Por isso, ela devia ser
representada por um triângulo equilátero, em que os lados são os degraus e o
chão a sua base[xv].
São efectivamente
insondáveis os mistérios envolvidos nesta alegoria, certamente que cada um de
nós terá a sua abordagem, no entanto, a busca pela evolução moral e espiritual
estará, invariavelmente, sempre presente, o comp.´. deverá progressivamente
ir-se sobrepondo ao esq.´.[xvi].
Referências Bibliográficas
[i] Autor desconhecido. Interpretação
Rosa Cruz de uma alegoria bíblica.
[ii] “O escolhido por Deus” - Jacob, filho
de Isaac e de Rebeca, neto de Abraão e irmão de Esaú.
É também referenciado como o escolhido por Deus, pela sua
perseverança e abnegação, é mesmo apresentado como o Hebreu mais teimoso que
alguma vez existiu, sendo o único homem que combateu com Deus, personificado
num anjo.
"Jacó, porém,
ficou só; e lutou com ele um homem, até que a alva subiu. E vendo este que não
prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da
coxa de Jacó, lutando com ele. E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu.
Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares. E disse-lhe: Qual é
o teu nome? E ele disse: Jacó. Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas
Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. E
Jacó lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por
que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó o nome daquele
lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi
salva."(vide Gênesis 32:24-30).
[iii] Gênesis 28:10-19
“E Jacob seguiu o caminho
desde Bersba e dirigiu-se a Harã.
Com o tempo atingiu
certo lugar e preparou-se para ali pernoitar, visto que o sol já se tinha
posto. Tomou, pois, uma das pedras do lugar, colocou-a como apoio para a sua
cabeça e deitou-se naquele lugar.
E começou a sonhar, e
eis que havia uma escada posta da terra e seu topo tocava nos céus; e eis que
os anjos de Deus subiam e desciam por ela.
Jacób acordou do sono e
disse «Verdadeiramente, Jeová está neste lugar e eu mesmo não o sabia».
E ficou temeroso e
acrescentou; «Quão aterrorizante é este lugar» Não é senão a casa de Deus e
este é o seu portão de entrada».”
[iv] O primeiro degrau, depois de um
dilúvio devastador, Noé, reuniu todos os seus bens e deslocou-se para o monte
Ararat, onde encontrou refúgio. Dali soltou uma pomba que voltou com um ramo de
oliveira no bico, ficava assim a saber qua as terras já não estavam cobertas
pelas águas. A possibilidade de uma nova oportunidade.
No segundo degrau, o degrau da fé, da certeza que os
nossos sacrifícios serão recompensados, Abraão dirigiu-se ao monte Moriá, Jeová
pediu a Abraão um sacrifício, ou seja, que sacrifica-se o seu único filho.
O terceiro degrau da escada evolutiva refere-se ao
episódio de Moisés subindo o monte Sinai, onde receberia o Decálogo (código de
leis), aludindo-se à necessidade da disciplina e da obediência.
No quarto degrau encontramos os Judeus que, após
atravessarem o deserto, vindos de um período de escravidão no Egito, chegam ao
monte Carmelo e ali encontram verdadeiros e falsos profetas. É o degrau dos
conflitos íntimos e do discernimento.
Só após a passagem pelo degrau do discernimento podemos subir
ao monte Tabor, como sabemos é o monte da transfiguração de Jesus, é o degrau
do nascimento espiritual.
Depois desta transfiguração, onde transcendem todas as
diferenças religiosas e culturais, devemos subir ao monte do Gólgota, é o
calvário da solidão e da incompreensão, o teste da persistência tão necessária
em qualquer elevação espiritual.
Por fim, o último degrau, referente aos momentos de maior
paz e felicidade que um homem pode atingir, é o momento da entrega total, Jesus
no monte das Oliveiras. (Extr. e Ad., Autor desconhecido. Interpretação Rosa
Cruz de uma alegoria bíblica).
[v] Querer, conceber, formar e executar.
Na tradição da Cabala, a escada de Jacób tem um simbolismo
de grande significado pela aplicação da técnica da gematria, ou seja, a
associação do significado das letras com o seu valor numérico, a palavra escada
equivale ao número 130. Este também corresponde às palavras Sinai e ao nome
Abraão, assim, os cabalistas fazem uma ligação de três nomes sagrados para eles
e para os povos Judeus: Abraão, o pai da nação, o Monte Sinai, onde o Senhor
apareceu a Moisés e a visão de Jacó em Betel. Desta forma, a visão da Escada de
Jacó passa a ser a própria experiência de Israel na procura da sua sacralidade
como nação.
[vi] LEVY, Rav Ezrah Ben. Textos Diversos.
[vii] “Uns
estão na terra, preparando-se para subir os seus degraus. Outros, já ascenderam
a alguns, enquanto outros, mais distantes, aproximam-se do topo. Lá, no alto,
perdendo-se quase entre nuvens, são poucos os que, de baixo, podem vê-la. Só
aqueles que ascenderam alguns degraus são capazes de consegui-lo” (SANTOS,
Mário Dias Ferreira. Pitágoras e o tema do número).
[viii] O primeiro estrato era a terra e a
consciência humana, o mais ínfimo deles. O segundo era o mundo dos espíritos,
ou da reencarnação. O terceiro era o céu. O quarto era um estado intermédio
onde as almas ficavam, logo que desencarnassem. O quinto era o mundo da
regeneração, onde as almas eram preparadas para reencarnar novamente. O sexto
era o Palácio do Grande Rei, onde habitava Brahma, o grande princípio criador
dos céus e da terra. O sétimo era o mundo de Brahma, a essência, o incriado, a
verdade em si mesma, o en shoph dos
cabalistas, o próprio Deus na sua essência, o Pai da Luz. (Textos diversos. O
estudo do Hinduísmo; A Escada de Jacó; Introdução ao estudo da Cabala).
[ix] Depois da sua morte, o individuo via
a sua alma pesada na balança de Anúbis, com o contrapeso da pena de Maat, se
esta se equilibra-se, era lhe concedida passagem para que continua-se a sua
jornada, percorria um longo caminho pela Tuat, a terra dos mortos, enfrentando
uma série de perigos, para chegar no seu final ao território luminoso de Rá,
transformando-se num astro brilhante. Nessa jornada, se fossem demonstrados
méritos bastantes no cumprimento da Maat, o individuo seria guiado por Osíris e
completava sem dificuldades essa jornada. (Textos diversos. O Fascínio do
Antigo Egipto).
[x] Por exemplo o Liv\ da Le\ que é representada maioritariamente
pela Bíblia, a Escada de Jacób, os padroeiros São João Batista e São João
Evangelista, o próprio Templo de Jerusalém ícone do Judaísmo, etc.
[xi] Vide, R\A\P\M\M\ Livrete do Pr\ Gr.´..
[xii] “O
método de ensino da F\M\, que solicita os esforços
intelectuais de cada um, evitando inculcar dogmas. Coloca-se o neófito na via
da verdade dando-lhe simbolicamente a primeira letra da Pal\Sag\; Ele mesmo deve encontrar a segunda
letra. Dando-lhe de seguida a terceira para que ele adivinhe a quarta e, por
fim, é-lhe dada a quinta” (Vide, R\A\P\M\M\ Livrete do Pr\ Gr.´.).
[xiii] Na lenda de Ícaro, personagem da
mitologia grega, ele e o seu pai, Dédalo, constroem asas de cera no intuito de
conseguirem sair da prisão, no famoso labirinto na ilha de Creta. No entanto,
as suas asas, acabaram por se derreter, quando se aproximaram em demasia do
sol, provocando, desta forma, a sua queda dos céus em direcção ao abismo do mar
Egeu.
[xiv] Temos também aqui a uma representação
da ligação possível entre o sagrado e o profano, entre o céu e a terra, numa
interacção que completa as duas estruturas cósmicas e reabilita a ideia de
unidade primordial do universo. Exatamente como faziam os antigos egípcios na
aplicação do conceito da Maat, Maat levava para o céu os influxos da boa acção
humana sobre a terra e trazia do céu as benesses dos deuses em troca dessas
boas acções. (Extr. e Ad. Portal Maçónico. A Escada de Jacób).
[xv] Extr. e ad. Ir\ não identificado. A Escada de Jacób na
Maçonaria e o Circulo Misterioso.
[xvi] O esq.´. que representa a matéria e
o comp.´. o espirito, se no prim.´. gr.´. o esq.´. se sobrepõem ao comp.´. (a matéria se sobrepõem ao espirito), nos restantes ggr.´., o comp.´. vai
progressivamente se sobrepondo ao esq.´. (o espirito vai se sobrepondo à
matéria).
NEVES, Jurandyr José Teixeira. A Escada de Jacó.
SARTORI, Eloi. A Escada de Jacó.
CASTRO, Nêodo Ambrósio. A Escada de Jacó.
BATISTA, Carlos António. Textos diversos. G\L\M\M\G\
Antigos Testamentos. Bíblia Sagrada
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