quarta-feira, 20 de julho de 2016

A escada de Jacob na nossa Art.´. R.´.

“E após aquele sonho, Jacob entendeu que aquela escada era a porta para a «terra prometida», entendendo-se a «terra prometida» como o clímax da espiritualidade que o homem atingirá”.[i]

Desde cedo, a alegoria adotada pela Maç\ do sonho que, o escolhido por Deus[ii], teve em Betel enquanto dormia com a cabeça apoiada numa pedra, me despertou uma enorme atenção. Pelo seu enorme poder que facilmente transparece a quem a for estudando, a imagem de uma escada que está assente na terra e se eleva até aos céus, e em que por ela os anjos vão subindo e descendo provocou em mim, uma curiosidade arrebatadora, pelos seus possíveis significados aos mais diversos níveis e pela intensidade da sua mensagem.

Estamos obviamente a falar do relato que se pode ler em Génesis 28:10-19[iii].

Esta alegoria encontra o seu análogo em todas as sociedades iniciáticas que tive oportunidade de ir estudando, o que só por si demonstra bem o seu valor simbólico, são inúmeras as interpretações que lhe foram sendo atribuídas, os Rosa Cruzes, na sua Escada Rosacruciana, apresentam-nos os degraus da escada como se cada um deles estivesse relacionado com a subida a uma montanha - Ararat, Moriá, Sinai, Tabor, Gólgota e Oliveiras – as que constam dos sete episódios históricos vividos pelo povo judeu[iv]. Os Cabalistas associam-na ao despertar da consciência e aos seus quatro pilares da sustentação dos seus trabalhos[v]. Os Judeus, através do seu estudo da Torah, associam-na à necessidade de haver um percurso passando por todos os degraus, dando tempo ao tempo e um dia de cada vez, através da prece vão-se estabelecendo contactos entre o céu e a terra[vi] e os Pitagóricos, que a vêem como símbolo da busca afanosa da verdade pelo homem, “essa escada é a filosofia”, dizem[vii].

No Hinduísmo, já se falava numa Escada de Brahma, que todos os iniciados nos mistérios daquela religião deviam subir, os Hindus acreditavam que o mundo era composto por sete estratos, cada um alcançável por uma escada ou nível de sabedoria iniciática[viii]. Esta crença apresenta uma curiosa similitude com a religião egípcia, embora com uma aplicação processual diferente, em vez da reencarnação defendida pelos hindus, na religião egípcia acreditava-se num processo dividido em duas etapas, uma em vida, através da prática da Maat, ou seja, vivendo de forma virtuosa, obedecendo aos preceitos dos deuses, segundo a ética e a moral aconselhada. A outra, num post mortem, em que a alma era pesada na balança de Anúbis[ix].

Já no Mitraísmo, encontramos a Escada de Mitra e, na teologia católica, a escada de Jacó é em alguns cultos utilizada para representar as sete virtudes teologais, que por vezes são representadas por uma escada com sete degraus, que devem ser subidos pelo praticante.

E no que se refere à N\A\R\, este símbolo iniciático, de profundo carácter religioso, como muitos outros, é profusamente utilizado nos nossos trabalhos. Não será de estranhar a recorrente utilização de simbologia religiosa, nomeadamente do Cristianismo, pela Maç\. Esta resulta muito de motivos históricos, oriunda da Maç\ Op\ tempos em que a religião dominante era essa mesma[x]. A Maç\ não sendo uma religião no seu sentido estrito e habitual[xi], faz no entanto uso de diversos símbolos e alegorias marcadamente religiosos.

A utilização do simbolismo da Escada de Jacob pela Maç\, não sendo certo, parece ter sido inspiração dos MM.´. Jacobitas quando criaram o R\E\A\A\, ela é utilizada para simbolizar a cadeia iniciática maç.´. porque ela representa bem o sentido ascendente que o espirito humano deve prosseguir quando busca incessantemente um aprimoramento moral e espiritual.

Tal como o objetivo da Maç\ que pode por vezes parecer utópico, esta escada também não parece ter fim, mas sem dúvida que apresenta um rumo a seguir, um caminho, que deverá ser prosseguido de forma gradual, cumprindo-se também aqui o método de ensino da Maç\[xii], lembrem-se da Palavr\ Sagr\ que deve ser soletrada, os progressos são graduais e lentos, também o neófito, nas suas viagens, vai progressivamente percorrendo um percurso de grandes dificuldades iniciais que vão desaparecendo. A este respeito, recordo sempre a lenda de Ícaro[xiv], e questiono-me se, ao invés de este ter construído asas, tivesse optado por uma escada, talvez encontra-se o caminho da saída do labirinto onde se encontrava.

A escalada que aqui trazemos deverá ser feita em todas as direcções, do Oc.´. ao Or.´., do Setent.´. ao M.´. D.´., no sentido dos dois eixos traçados pelo esquad.´. (vertical e horizontal, que significam justiça e perfeição) e na forma traçada pelo comp.´. (a circunferência, cujo limite está em parte alguma e cujo centro está em toda a parte), por outras palavras, o universo.

Isto porque, no tempo e no espaço, o espirito maç.´. deve ser incansável no combate aos vícios, a escada do sonho de Jacób estava assente no chão, mas o seu ponto mais alto tocava o céu. Por ela os anjos subiam e desciam, ora é este o comportamento que, em minha opinião, o M.´. deve adoptar. Discípulo da razão, não pode ele nunca desprezar o reino subtil do espirito e, ao mesmo tempo, deve manter os seus pés assentes na terra. A escada de Jacób simboliza também, por um lado, a ascensão vertical do espirito humano na busca constante da perfeição espiritual, e, por outro, a constante necessidade de descer à terra para cumprir as finalidades da própria vida, trazendo para ela as virtudes conquistadas na sua ascensão[xiv].

MM\QQ\II\, o que fazemos nós numa Loj\ de S.´. J.´.?

Não resisto em arriscar uma nova abordagem, como eu a vejo, aproveitando toda a misticidade e profundo significado da visão de Jacób, porque esta ganhou mesmo um sentido ético e moral na nossa A\R\

A escada deverá ser dupla, de um dos lados, à medida que vamos subindo os seus degraus, estamos a crescer nas nossas virtudes - levantando templos à nossa virtude, do outro lado, à medida que vamos descendo os seus degraus, vamos enterrando os nossos vícios – cavando masmorras para os nossos vícios. Por isso, ela devia ser representada por um triângulo equilátero, em que os lados são os degraus e o chão a sua base[xv].

São efectivamente insondáveis os mistérios envolvidos nesta alegoria, certamente que cada um de nós terá a sua abordagem, no entanto, a busca pela evolução moral e espiritual estará, invariavelmente, sempre presente, o comp.´. deverá progressivamente ir-se sobrepondo ao esq.´.[xvi].



Referências Bibliográficas




[i] Autor desconhecido. Interpretação Rosa Cruz de uma alegoria bíblica.

[ii] “O escolhido por Deus” - Jacob, filho de Isaac e de Rebeca, neto de Abraão e irmão de Esaú.
É também referenciado como o escolhido por Deus, pela sua perseverança e abnegação, é mesmo apresentado como o Hebreu mais teimoso que alguma vez existiu, sendo o único homem que combateu com Deus, personificado num anjo.

"Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um homem, até que a alva subiu. E vendo este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com ele. E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares. E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. E Jacó lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva."(vide Gênesis 32:24-30).

[iii] Gênesis 28:10-19

“E Jacob seguiu o caminho desde Bersba e dirigiu-se a Harã.

Com o tempo atingiu certo lugar e preparou-se para ali pernoitar, visto que o sol já se tinha posto. Tomou, pois, uma das pedras do lugar, colocou-a como apoio para a sua cabeça e deitou-se naquele lugar.

E começou a sonhar, e eis que havia uma escada posta da terra e seu topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela.

Jacób acordou do sono e disse «Verdadeiramente, Jeová está neste lugar e eu mesmo não o sabia».

E ficou temeroso e acrescentou; «Quão aterrorizante é este lugar» Não é senão a casa de Deus e este é o seu portão de entrada».”

[iv] O primeiro degrau, depois de um dilúvio devastador, Noé, reuniu todos os seus bens e deslocou-se para o monte Ararat, onde encontrou refúgio. Dali soltou uma pomba que voltou com um ramo de oliveira no bico, ficava assim a saber qua as terras já não estavam cobertas pelas águas. A possibilidade de uma nova oportunidade.

No segundo degrau, o degrau da fé, da certeza que os nossos sacrifícios serão recompensados, Abraão dirigiu-se ao monte Moriá, Jeová pediu a Abraão um sacrifício, ou seja, que sacrifica-se o seu único filho.

O terceiro degrau da escada evolutiva refere-se ao episódio de Moisés subindo o monte Sinai, onde receberia o Decálogo (código de leis), aludindo-se à necessidade da disciplina e da obediência.

No quarto degrau encontramos os Judeus que, após atravessarem o deserto, vindos de um período de escravidão no Egito, chegam ao monte Carmelo e ali encontram verdadeiros e falsos profetas. É o degrau dos conflitos íntimos e do discernimento.

Só após a passagem pelo degrau do discernimento podemos subir ao monte Tabor, como sabemos é o monte da transfiguração de Jesus, é o degrau do nascimento espiritual.

Depois desta transfiguração, onde transcendem todas as diferenças religiosas e culturais, devemos subir ao monte do Gólgota, é o calvário da solidão e da incompreensão, o teste da persistência tão necessária em qualquer elevação espiritual.

Por fim, o último degrau, referente aos momentos de maior paz e felicidade que um homem pode atingir, é o momento da entrega total, Jesus no monte das Oliveiras. (Extr. e Ad., Autor desconhecido. Interpretação Rosa Cruz de uma alegoria bíblica).

[v] Querer, conceber, formar e executar.
Na tradição da Cabala, a escada de Jacób tem um simbolismo de grande significado pela aplicação da técnica da gematria, ou seja, a associação do significado das letras com o seu valor numérico, a palavra escada equivale ao número 130. Este também corresponde às palavras Sinai e ao nome Abraão, assim, os cabalistas fazem uma ligação de três nomes sagrados para eles e para os povos Judeus: Abraão, o pai da nação, o Monte Sinai, onde o Senhor apareceu a Moisés e a visão de Jacó em Betel. Desta forma, a visão da Escada de Jacó passa a ser a própria experiência de Israel na procura da sua sacralidade como nação.

[vi] LEVY, Rav Ezrah Ben. Textos Diversos.

[vii] “Uns estão na terra, preparando-se para subir os seus degraus. Outros, já ascenderam a alguns, enquanto outros, mais distantes, aproximam-se do topo. Lá, no alto, perdendo-se quase entre nuvens, são poucos os que, de baixo, podem vê-la. Só aqueles que ascenderam alguns degraus são capazes de consegui-lo” (SANTOS, Mário Dias Ferreira. Pitágoras e o tema do número).

[viii] O primeiro estrato era a terra e a consciência humana, o mais ínfimo deles. O segundo era o mundo dos espíritos, ou da reencarnação. O terceiro era o céu. O quarto era um estado intermédio onde as almas ficavam, logo que desencarnassem. O quinto era o mundo da regeneração, onde as almas eram preparadas para reencarnar novamente. O sexto era o Palácio do Grande Rei, onde habitava Brahma, o grande princípio criador dos céus e da terra. O sétimo era o mundo de Brahma, a essência, o incriado, a verdade em si mesma, o en shoph dos cabalistas, o próprio Deus na sua essência, o Pai da Luz. (Textos diversos. O estudo do Hinduísmo; A Escada de Jacó; Introdução ao estudo da Cabala).

[ix] Depois da sua morte, o individuo via a sua alma pesada na balança de Anúbis, com o contrapeso da pena de Maat, se esta se equilibra-se, era lhe concedida passagem para que continua-se a sua jornada, percorria um longo caminho pela Tuat, a terra dos mortos, enfrentando uma série de perigos, para chegar no seu final ao território luminoso de Rá, transformando-se num astro brilhante. Nessa jornada, se fossem demonstrados méritos bastantes no cumprimento da Maat, o individuo seria guiado por Osíris e completava sem dificuldades essa jornada. (Textos diversos. O Fascínio do Antigo Egipto).

[x] Por exemplo o Liv\ da Le\ que é representada maioritariamente pela Bíblia, a Escada de Jacób, os padroeiros São João Batista e São João Evangelista, o próprio Templo de Jerusalém ícone do Judaísmo, etc.

[xi] Vide, R\A\P\M\M\ Livrete do Pr\ Gr.´..

[xii] “O método de ensino da F\M\, que solicita os esforços intelectuais de cada um, evitando inculcar dogmas. Coloca-se o neófito na via da verdade dando-lhe simbolicamente a primeira letra da Pal\Sag\; Ele mesmo deve encontrar a segunda letra. Dando-lhe de seguida a terceira para que ele adivinhe a quarta e, por fim, é-lhe dada a quinta” (Vide, R\A\P\M\M\ Livrete do Pr\ Gr.´.).

[xiii] Na lenda de Ícaro, personagem da mitologia grega, ele e o seu pai, Dédalo, constroem asas de cera no intuito de conseguirem sair da prisão, no famoso labirinto na ilha de Creta. No entanto, as suas asas, acabaram por se derreter, quando se aproximaram em demasia do sol, provocando, desta forma, a sua queda dos céus em direcção ao abismo do mar Egeu.

[xiv] Temos também aqui a uma representação da ligação possível entre o sagrado e o profano, entre o céu e a terra, numa interacção que completa as duas estruturas cósmicas e reabilita a ideia de unidade primordial do universo. Exatamente como faziam os antigos egípcios na aplicação do conceito da Maat, Maat levava para o céu os influxos da boa acção humana sobre a terra e trazia do céu as benesses dos deuses em troca dessas boas acções. (Extr. e Ad. Portal Maçónico. A Escada de Jacób).

[xv] Extr. e ad. Ir\ não identificado. A Escada de Jacób na Maçonaria e o Circulo Misterioso.

[xvi] O esq.´. que representa a matéria e o comp.´. o espirito, se no prim.´. gr.´. o esq.´. se sobrepõem ao comp.´. (a matéria se sobrepõem ao espirito), nos restantes ggr.´., o comp.´. vai progressivamente se sobrepondo ao esq.´. (o espirito vai se sobrepondo à matéria).


NEVES, Jurandyr José Teixeira. A Escada de Jacó.

SARTORI, Eloi. A Escada de Jacó.

CASTRO, Nêodo Ambrósio. A Escada de Jacó.

BATISTA, Carlos António. Textos diversos. G\L\M\M\G\

Antigos Testamentos. Bíblia Sagrada

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