Foram muitas as sensações por mim
recolhidas nesse meu primeiro dia, não tenho a habilidade suficiente para as
resumir e expor todas por esta via, no entanto, recordo particularmente as três
viagens simbólicas.
Já devidamente preparado[i] e após um conjunto de provas[ii],
fui conduzido até um compartimento[iii],
no seu interior comecei a caminhar lentamente, ultrapassando obstáculos,
pisando um solo irregular que ia magoando os meus pés descalços, perante um
horrível ruído, recordo a impressão de barafunda e grande confusão que aquele
ambiente me provocava.
Pelo que pude estudar
posteriormente, quando alguém ingressava nos “Mistérios Menores”, na Grécia ou
Egipto, considerava-se que o primeiro e mais importante ensino que se deveria
receber era a verdade acerca das condições depois da morte, pois tinham em
conta que o homem pode morrer a qualquer instante e, portanto, deve possuir tal
conhecimento. Actualmente, esta prática continua a ser utilizada e as três
viagens simbólicas constituem a parte principal desse ensino.
Pelo que sei agora, o cand.´. deve passar por três pórticos ou portais, que são invisíveis aos olhos do
corpo físico, mas perfeitamente reais porque estão construídos com o pensamento[iv].
Terminada a minha primeira
viagem, e conforme o que me foi também explicado na altura pelo nosso V.’.M.’.,
esta viagem é uma débil simulação das provas por que o candidato havia de
passar nos antigos Mistérios, quando era conduzido pelas tenebrosas cavernas,
símbolo do mundo astral inferior, entre tumultuosos ruídos e rodeado de perigos
que não podia compreender.
Ainda no final dessa minha
viagem, tenho bem presente que, sei agora, fui apresentado aos elementos da
terra e da água, que representam os subplanos sólido e líquido do mundo astral,
era essa a região onde simbolicamente havia chegado.
Dei então início à minha segunda
viagem simbólica, muito semelhante à anterior, mas os ruídos são agora suaves e
mais agradáveis, os obstáculos são menores e mais facilmente transpostos.
Também pelo que pude estudar
posteriormente, simbolicamente encontrava-me ainda num mundo astral, mas na sua
parte intermédia, muito mais fina e subtil[v].
“Os desejos que apegam o homem à
matéria desta região intermédia não são de modo algum repreensíveis, mas não
favorecem o progresso. Todos os prazeres do corpo, que não sejam grosseiros e
soezes, constroem aqui seu alojamento para morada das almas dos mortos, até que
abandonem tais prazeres e estejam disposto a seguir adiante”.[vi]
Terminada a minha segunda viagem[vii],
sei agora, fui apresentado aos elementos do ar, que guardam o lado direito do
portal, e aos elementos do fogo que guardam o seu lado esquerdo.
Antes de iniciar a minha terceira
viagem, foi-me então explicado que nos antigos Mistérios, quando nesta viagem o
candidato saía das tenebrosas cavernas, entrava numa região de silêncio,
símbolo dos subplanos superiores do mundo astral, onde não podem penetrar os
sonhos ásperos, grosseiros, conquanto haja ainda ali alguma desarmonia ente as
almas.
Dei então início à minha terceira
viagem simbólica, também análoga às anteriores, mas agora sem qualquer
dificuldade de maior e sob um completo silêncio. Correndo o risco de errar,
digo eu agora, havia simbolicamente atingido os umbrais do mundo celeste, onde
o silêncio perfeito acalma os fatigados sentidos e o envolve numa tranquila e
indescritível paz.
Foi-me então explicado que para
trás havia ficado o mundo inferior, diante de mim estavam as alegrias do céu.
“Nesta etapa de seu progresso ele
simboliza o discípulo na senda probatória, e deve exercitar as três qualidades
de discernimento, ausência de desejos, boa conduta ou autodomínio, que o
livrarão do plano emocional, como se livrou do plano físico antes de entrar na
L.´.”.[viii]
Compreendi nessa altura que no
futuro a “empreitada” se revelaria de enorme monta, as exigências iriam ser
muitas e exigentes, porque não bastaria aos membros desta Ordem o que ao longo
da minha vida me foi sendo exigido, nada disso, ficou bem claro para mim que,
só quando eu souber compreender e assimilar a mensagem de todos os símbolos que
me eram oferecidos para meditação, eu teria satisfatoriamente superado a prova “…
da Terra para a Glória do G.´.A.´.D.´.T.´.O.´.M.´.”[ix].
Referências Bibliográficas
[i]
Encontrei diversas explicações para tal preparação, nomeadamente, o peito
esquerdo despido porque em alguns ritos ele recebe o toque da espada ao entrar
na loja, ou então, na Maç.´. masculina, porque desse modo se sabe que o
candidato não é uma mulher.
[ii] Pelo
que sei agora, este conjunto de provas variam nos diversos ritos, mas em todos
se pretende avaliar as qualidades morais e a aptidão intelectual para o
candidato compreender os valores e os mistérios da Ord.´..
[iii] L.´., sei
agora.
[iv] LEADBEATER,
C. W. – A vida oculta na Maçonaria. São Paulo: Ed. Pensamento, ISBN
978-85-315-0704-5, Tradução da 2.ª Edição de 1928.
[v] Oper. Cit.
[vi] Oper. Cit.
[vii] “A
carência de desejos é a qualidade que pode capacitar o candidato a passar
através de engodos desta região, pelo que uma vez mais entrega aos elementos o
que desta região possui. E passa adiante, já amigo deles, que estarão sempre
prontos a lhe emprestar seus tesouros, porque sabem que é um Irmão da luz e que
não os guardará para si mesmo, mas lhes dará boa aplicação e lhos devolverá
oportunamente.” (Extr. e Adpt. GUERRA, Manuel – A trama maçónica. Parede:
Ed. Principia, 2008. ISBN 978-989-8131-19-5).
[viii] LEADBEATER, C. W. – A
vida oculta na Maçonaria. São Paulo: Ed. Pensamento, ISBN 978-85-315-0704-5,
Tradução da 2.ª Edição de 1928.
[ix] Extr. e Adap. Oper. Cit.
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