sexta-feira, 15 de julho de 2016

Ágape

Desde sempre que o ato de tomar as refeições sempre foi uma atividade social e comportamental, no sentido de ser realizado coletivamente, são inúmeros os exemplos disso mesmo e ao longo da história as refeições coletivas sempre apareceram de diferentes formas e com nomes diversos[i].

Atrevo-me a dizer que, nos momentos mais importantes da história, tanto do ponto de vista politico como económico e social, importantes decisões foram tomadas antes, durante ou depois de refeições. Como refere OUTEIRO PINTO[ii] - “A refeição conjunta ajuda a quebrar os espíritos e a selar compromissos”.

Mesmo em tempos bem longínquos tal se verificava, recordo, por exemplo, a referência que é feita na Bíblia à refeição coletiva ocorrida após a pregação de Cristo do Sermão da Montanha, ou então, as últimas instruções aos apóstolos que tiveram lugar na “Última Ceia”. Mas, também os mmaç.´. oop.´. costumavam realizar as suas refeições nos próprios canteiros das obras, nos intervalos e após os trabalhos.

No que se refere à Maç.´., comer e beber juntos sempre foi algo de importante, sendo normalmente referido o valor do convívio que se gera, a este respeito, será de referir que a palavra “convívio”, no seu sentido etimológico, tem o mesmo significado de “banquete”, palavra de origem francesa por causa da utilização de pequenos bancos[iii] nas refeições, e significa viver juntos com fraternidade, ou também, refeição realizada em ambiente fraternal.

De tudo o que tive oportunidade de ler, resulta claro que os “banquetes ritualísticos” são uma das mais antigas e sólidas tradições maçónicas, nesse sentido, a Constituição de Anderson contém diversas referências e descrições sobre as mesmas.

No que se refere ao nome de Ágape, e sobre o seu significado, pudemos adiantar que é referido como sendo a refeição que os primitivos cristãos tomavam em comum, ou então, e mais atualmente, como sendo um banquete, almoço ou outra refeição de confraternização, por motivos políticos, sociais, comerciais, etc. Para a Maçonaria, trata-se de um “Banquete de Confraternização”, e segundo alguns autores, ágape[iv] tem origem no nome grego “agapê”, que significa amor. Nome que, na Igreja primitiva, era dado à refeição que os cristãos faziam em comum, em memória da ceia de Jesus Cristo com seus discípulos, e na qual se davam mutuamente o ósculos da paz e da fraternidade (cfr. OUTEIRO PINTO[v]).

No inicio, em Jerusalém, os ágapes realizavam-se todas as noites, mas posteriormente foram reservados para os domingos. A eles assistiam homens de todas as classes, e cada um contribuía com as suas posses, pagando os ricos a parte dos pobres. Cedo começaram a ser condenados, pelos abusos que neles foram introduzidos, e foram atacados pelos pagãos que os apresentavam como servindo de pretexto a infames libertinagens. O concilio de Cartago, em 397, aboliu mesmo tais banquetes.

Centrando-me agora mais sobre as correntes de pensamento maçónico, o nome de “ágape” é utilizado para indicar o banquete ou refeição ritualística que, obrigatoriamente, se segue aos trabalhos da L.´.. Simboliza a recreação em comum, merecida depois do trabalho, e é presidida pelo V\M\.

A sua importância é manifesta, desde logo pela sua principal função de promover que os irmãos vivam em união, para exercitarem o convívio fraternal e compartilhar, simbolicamente, a comida no espírito dos antigos ágapes. Entendo, s.m.o., que o princípio deverá ser sempre a participação, mais ou menos obrigatória, de todos os Irmãos em torno do venerável, não num sentido de um banquete ou jantar entre sócios de um clube, mas sim, num sentido de cumplicidade e de partilha dos mesmos costumes e da mesma história, materializados na prática de um ritual consuetudinário.

Mesmo tratando-se de uma reunião mais ou menos informal, realmente é uma aliança e uma comunhão, é por isso que nele não devem participar pessoas estranhas à fraternidade, desta forma, será possível conhecermo-nos melhor e “com força bater no peito para arvorar a legitima Fraternidade”.

A este propósito, não posso deixar de referir a tarefa desenvolvida pelo “M.´. dos Agap.´.”[vi], cujo cargo não existia na Maç..´. Oper.´. e foi criado na Maç.´. Esp.´., e é o oitavo oficial da L.´.. As suas funções são as de cuidar dos preparativos dos banquetes, tomando todo o cuidado para que nada falte e que tudo decorra da melhor forma.

Como facilmente se compreenderá, a sua tarefa muito colabora para a confraternização dos Irmãos, promovendo eventos e tornando o ambiente agradável, bem como aproximando as famílias dos maç.´., intensificando as amizades já existentes, fazendo fluir outras novas. Enfim, é portanto um dos grandes responsáveis pela harmonia espiritual e fraternal da L.´..


Referências Bibliográficas




[i] Jantares, banquetes, piqueniques saraus, festas, convescotes e ágapes, p.e.

[ii] PINTO, M. J. Outeiro – Do meio-Dia à Meia-Noite. São Paulo: Madras, 2007. ISBN 978-85-370-0182-0.

[iii] Também chamados de Banquete ou banquetas.

[iv] Em grego também significa ternura, e contém noções de afeição, amor e devoção. O equivalente de ágape é caridade, a oposição é Eros, que significa amor possessivo.

[v] PINTO, M. J. Outeiro – Do meio-Dia à Meia-Noite. São Paulo: Madras, 2007. ISBN 978-85-370-0182-0.

[vi] A joi.´. do M.´. dos Agap.´. é um Cornucópio – um corno mitológico, atributo de abundância que se apresenta cheio de flores e frutos. A fábula diz ter sido arrancado da cabeça de Aquelous, personagem que, quando transformado em touro, foi vencido por Hércules. A Cornucópia era atribuída às divindades benfazejas, bem como da fortuna. Hoje é símbolo da agricultura e do comércio (cfr. PINTO, M. J. Outeiro – Do meio-Dia à Meia-Noite. São Paulo: Madras, 2007. ISBN 978-85-370-0182-0).

Alguns termos maçónicos a utilizar nos ágapes (cfr. Livrete do Primeiro Grau - R\A\P\M\M\)

Mesa = Plataforma                   Água = Pólvora fraca
Toalhas = Bandeiras                 Cerveja = Pólvora amarela
Pratos = Planaltos                    Licor = Pólvora fulminante
Colheres = Azulejos                 Café = Pólvora negra
Garfos = Picaretas                   Sal = Areia
Facas = Espadas                      Pimenta = Cimento
Garrafas = Barris                      Açúcar = Gesso
Copos = Canhões                     Comer = Mastigar
Luzes = Estrelas                       Beber = Tiro de canhão
Cadeiras = Baias                      Limpeza = Áspero
Alimentos = Materiais               Pão = Pedra Bruta
Omeleta = Argamassa              Vinho = Pólvora forte

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